segunda-feira, 4 de julho de 2011

Só por hoje não existe eu lírico nem personagens

Ode à cidade que me cuspiu

Terra maldita vermelho sangue
Suas ladeiras foram construídas com pedras de julgar
Suas janelas cheias de olhos
Suas austeras paredes de pedra sabão
Não desinfectam sua gente, não as deixa transpor essa vivência quase morta
De quem vive assim, meio comensal, meio parasita
Nas reentrancias das suas falhas
Exalando preconceitos pelos poros
Anna, nascida em uma cidade do quadrilátero ferrífero de Minas Gerais

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Mais mudança

E por perde-me é que vão me lembrando, por espalhar-me é que não tenho fim;

http://certainestracess.blogspot.com/

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Mon péché, mon obsession.

Eu que me apeguei ao inverno
Me vejo aqui, uma árvore verde
Contra o fogo, o calor
Eu me inflamo e me consumo
Pelos olhos de uma estrangeira
Que têm bem mais mistérios
Que a luz da lua.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Letras que descrevem bem.

“Durante muito tempo eu construí uma história em cima de um castelo destruído
E pra fugir dessa realidade dura eu já encontrei mais de mil motivos
Agora essas palavras de pessoas santas parecem música nos meus ouvidos
Já que ficou quase insuportável ouvir a voz dos meus olhos aflitos
De tanto chorar depois que a festa acabar
Se eu não me matar, talvez eu peça ajuda para voltar
De um lugar da onde despenquei feito um anjo que morreu de raiva
Na queda eu me despedacei mas eu já me permito mudar

Eu olhei ao meu redor para reconstruir o meu castelo caído
Pra viver de bons momentos sem ter que ter os olhos escondidos
Já fiz até um testamento que não tem nada, nada, nada escrito
Já que a minha maior herança é a que eu vou levar comigo
Pra evoluir, depois que o terror passar
Se eu não suportar talvez eu peça ajuda pra voltar
De um lugar da onde despenquei feito um anjo que morreu de raiva
Na queda eu me despedacei mas eu quero me permitir mudar”
(Luxúria)

Porque a inspiração não se levantou da cama comigo hoje. Assim ela tem feito há algum tempo, perdeu o interesse pela graça de tudo.

― Por que eu me trato assim tão mal?

* Eu espero realmente voltar daqui a alguns anos e rir da minha maneira antiga, que hoje é a nova, de pensar e viver! Eu quero acreditar.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Berna, 2 de janeiro de 1947

Querida, Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro. Nem sei como lhe explicar minha alma. Mas o que eu queria dizer é que a gente é muito preciosa, e que é somente até um certo ponto que a gente pode desistir de si própria e se dar aos outros e às circunstâncias. Depois que uma pessoa perde o respeito a si mesma e o respeito às suas próprias necessidades - depois disso fica-se um pouco um trapo.
Eu queria tanto, tanto estar junto de você e conversar e contar experiências minhas e dos outros. Você veria que há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo. Eu mesma não queria contar a você como estou agora, porque achei inútil. Pretendia apenas lhe contar o meu novo caráter, um mês antes de irmos para o Brasil, para você estar prevenida. Mas espero de tal forma que no navio ou avião que nos leva de volta eu me transforme instantaneamente na antiga que eu era, que talvez nem fosse necessário contar. Querida, quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma num boi? Assim fiquei eu... em que pese a dura comparação... Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também minha força. Espero que você nunca me veja assim resignada, porque é quase repugnante. Espero que no navio que me leve de volta, só a idéia de ver você e de retomar um pouco minha vida - que não era maravilhosa mas era uma vida - eu me transforme inteiramente.
Uma amiga, um dia, encheu-se de coragem, como ela disse e me perguntou: "Você era muito diferente, não era?". Ela disse que me achava ardente e vibrante, e que quando me encontrou agora se disse: ou esta calma excessiva é uma atitude ou então ela mudou tanto que parece quase irreconhecível. Uma outra pessoa disse que eu me movo com lassidão de mulher de cinqüenta anos. Tudo isso você não vai ver nem sentir, queira Deus. Não haveria necessidade de lhe dizer, então. Mas não pude deixar de querer lhe mostrar o que pode acontecer com uma pessoa que fez pacto com todos, e que se esqueceu de que o nó vital de uma pessoa deve ser respeitado. Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que você imagina que é ruim em você - pelo amor de Deus, não queira fazer de você mesma uma pessoa perfeita - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse o único meio de viver.
Juro por Deus que se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia - será punida e irá para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não será punida por essa mesma mornidão. Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo aquilo que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma. Espero em Deus que você acredite em mim. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Isso seria uma lição para mim. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade de alma.
Tua Clarice.

sábado, 18 de outubro de 2008

Mais um vestígio.

Havia cores difundidas e eu sentia o cheiro da dor.
Quando a alma está suja demais e precisa ser lavada, é inevitável conter o mar nos olhos. E quando ele seca, e a alma ainda não foi renovada, o espírito dói. Era assim que eu me sentia naquele dia nublado de sexta feira. A minha percepção de cor ia além das nuvens que escondiam o céu e da falta de vida do outro lado da janela. Numa escala linda e dolorosa de cinza eu percebia vários outros tons perturbadores. Concreto era o que eu via, mas por baixo da minha capa de pele, formava-se uma erosão. E eu falei besteiras demais tentando me salvar. Eu pensei em coisas desordenadas que me fizeram agir tão de repente que eu nem senti o apertar da corda. Mas eu sabia perfeitamente que o ar estava faltando, as mãos do meu destino me enforcavam. E a cortina de água salgada secava em meu rosto não muito doce. Diante desse presente que me parece tão irreal, eu me pergunto em que esquina ficou a minha existência. Em qual copo, em qual boca. Ainda me lembro de como a felicidade me invadia e eu era capaz de ver os raios de luz que saltavam do meu rosto, da minha pele. Eu era radiante. Ria por qualquer coisa, mas eram apenas tentativas. Alguma coisa se perdeu de mim. As coisas em geral se desprendem de mim sem que eu perceba. Então, é tarde demais para entender um não. É tarde demais para moldar outra personalidade, menos complexa. Mais propícia à felicidade.
• Preciso aprender a conviver comigo •